sábado, 6 de junho de 2009

O Verdadeiro Amor é Forte Como a Morte


Uma das mais doloridas histórias que já li, também foi uma das piores, pois foi contada pela alma de um ser aprisionado a uma incurável forma de amor. É a história de uma dor maior que a própria dor. Ela amava loucamente um homem.
Dera-se completamente a ele: corpo alma e espírito, além do que a palavra "entrega" pudesse exprimir. Amava-o a tal ponto "o amor caiu doente" - como diz o poeta. O homem também a amava e a desejava loucamente.
Ambos eram casados, mas não tinham filhos de seus casamentos. Os sentimentos de amor proibido e pecado eram indescritíveis. O homem desse amor acabou não suportando as pressões que se levantavam contra seu amor proibido, dentro e fora de seu ser. Então, a deixou. Largou tudo e foi-se rasgado, infeliz e amargurado. Fez de tudo para não morrer. Tentou distrair-se, mas traía-se em cada distração.
Ela rolou e resolveu-se sobre aquele amor maior que o mar e mais profundo que o abismo.
Não suportava a ausência do seu homem. Ela sabia que ele era de fato um homem.
Coisa rara entre os machos! Ele, até onde soube, sofria de agonias e náuseas. Sua alma vivia de batalha para conseguir existir. As guerras nunca cessavam em seu ser. Não havia re­médio também para sua dor. Um dia ela ficou sabendo que ele mudara-se para uma terra muito mais distante ainda e que de lá, provavelmente, jamais voltaria. Exilara-se de tanta dor onde ninguém pudesse falar com ele. Ela sofreu por antecipação todos os dias de saudades do passado, do presente e do futuro, sem saber que isso não existe. Basta a cada dia a sua própria saudade. Assim, ela morreu antes da morte chegar.
Sua beleza feminina, todavia, nunca murchava. Tornara-se ainda mais bela. A dor lhe emprestara, estranhamente, ainda mais formosura. Por isso, os homens a assediavam e os amigos e amigas sugeriam-lhe o caminho da porta mais larga: um outro amor!
Surgiu um médico em sua vida: belo, inteligente, agradável. Todos os que viam a beleza da mulher não ser usufruída, ale­graram-se com a chegada do doutor. Era como se ele pudesse usufruí-la por eles. Essas coisas acontecem. Por isso é que pouca gente sofre quando a mulher feia fica só.
As belas, no entanto, são assediadas até pelas amigas.
Ela tentou enganar-se quanto ao peso e a força do amor que nela havia.
Imaginava como todo mundo, que uma outra pessoa seria o "resgatador" de sua alma.
Afinal ela olhava-se no espelho e via-se linda! Assim, ela mesma dizia todos os dias aos reflexos de beleza que do espelho a seduziam a seus próprios olhos, que era um desperdício amar tão loucamente que não voltaria nunca mais, pelo menos era essa história que o horizonte do mundo real contava! Depois de um tempo decidiu-se entregar ao doutor. Sofreu aquela dor horrível de despir-se sem jamais tirar a roupa.

Amar sem Amor

Cometeu esse crime contra sua alma, contra seu amor.
E assim, tentou amar sem amor, enganava-se como podia.
Deu-se, mas jamais conseguiu entregar-se. Recebeu ca­rinhos que lhe causavam repugnância e buscou prazeres que lhe chegavam com o triste sabor de desgosto.
O problema é que todos em volta estavam felizes com a chegada do doutor.
Suas amigas o achavam maravilhoso. Ele era um cara legal, aberto, culto, rico e engraçado.
Sua gentileza encantava as mulheres e não provocava os homens.
Ele era ideal para todo mundo, mas não para ela!
A cada gesto dele, ela via o outro. A cada beijo, ela sentia o gosto do outro.
A cada tentativa de fazer amor, ela se contorcia de agonia: sua alma não atendia aos apelos unânimes que vinham de fora! Amar sem amor é mais difícil do que se enterrar vivo!
O fato é que se casaram assim mesmo! Dois anos depois que ela estava de miséria absoluta. Agora nem mais a bela estética ela via nele.
O doutor se transmudara num gari cheirando a lixo em sua alma.
Para o médico sobrara um lixo de um coração de mulher que não se deixou vencer pela média e nem se fez cidadã da co­munidade dos que pensando que um dia amaram, apenas trocam de amor como quem muda de meia. O coração da mulher era vítima de um amor que nunca morreu, nem morreria e que se "rendera" apenas porque importava agradar a todos, e era es­sencial buscar a normalidade. Cinco anos depois ela sentia dores maiores que as saudades que um dia matavam pela ausência do seu amor que partira para uma terra distante.
A combinação da saudade do outro com a presença do doutor, que dela demandava amor e sinceridade, haviam se tor­nado piores que qualquer inferno de antes.
E agora? Casara-se com um "ideal" e vivera para atender a demandas de "normalidades" que obrigavam a casar sem paixão, a amar sem amor, e a esquecer aquele que nela vivia.
O conselho do livro de Cantares é para que não se tente acordar o amor "até que este o queira".
Isto porque, uma vez acordado, o amor torna-se "mais forte que a morte e as muitas águas não pode afogá-lo".
Nesse caso, uma horrível saudade dói menos que a melhor companhia.
O doutor e ela que o digam. Seu coração também não encontrará descanso em nenhum braço que não seja o do amor de Deus.
Para a mulher foi a morte ter que dar-se a quem não queria.
A medida que vivo, aprendo coisas simples.
Histórias como estas me ensinam muito.
Entre essas coisas que essa tragédia me ensinou, há uma em especial:
A alma nem sempre ama assim, mas quando assim ama, nem a morte curará dessa doença. O que lhe resta é descansar no amor de Deus, e não nos homens, e, aqui falo de homens e mulheres, pois em nenhuma outra substituição haveria paz ou conforto.
Eu disse muitas coisas mais a essa mulher tão diferente de suas amigas e amigos. Mas entre tantas lhe falei também que era melhor que ela se desobrigasse dessa normalidade de amar sem amor, do que se estuprar todos os dias a fim de agradar a seus "amigos normais".
Gente como essa mulher não cai de árvores!
São frutos raros e são proibidos!
Quem comê-los, sofrerá a morte!
E quem em sendo como ela e em sendo assim deixar-se levar pelos apelos da normalidade, sofrerá. Ninguém pode servir a dois amores!
No caso de homens amarem assim, pode-se ter certeza: é porque foram irremediavelmente atingidos pelo amor, do con­trário, não suportariam entregar-se tanto. Homens são fracos nesse tipo de amor.
Ora, esse tipo de paixão que perpassa os anos e que não envelhece, é rara. Mas quando acontece, nem a distância con­segue encontrar rugas nele. É mais forte que a morte. Nenhum homem pode "separar" tais seres. Muito menos a distância ou a calamidade. Mesmo que nunca mais se vejam, jamais deixarão de se encontrar nos aposentos do coração todas as horas do dia e da noite. Visitar-se-ão em sonhos e terão pesadelos acordados e também de olhos abertos.
Quando é assim, o melhor a fazer é buscar paz e satisfa­ção no privilégio de ter conhecido o amor. O próximo passo é mergulhar de cabeça no consolo da presença de Deus. A tentativa de substituí-lo por conta própria é pior que um câncer para a alma.


*(extraido do livro "o divorcio começa no namoro)

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