quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

soneto III


Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está ligada.


Mas esta lida e pura semidéia, [semideusa]
Que, como o acidente em seu jeito,
Assim com a alma minha se conforma. [harmoniza]
Está no pensamento como idéia;
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples, busca a forma.


LUIZ DE CAMÕES

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